Prática fortalece, melhora a flexibilidade e o equilíbrio, mas não substitui outros tipos de exercício físico
O Pilates se consolidou como um dos métodos de treinamento mais populares, frequentemente promovido como a chave para um corpo “longo e magro”. Mas, por trás do hype e do sucesso nas redes sociais, quais são seus reais benefícios?
“O Pilates passa por ciclos de popularidade”, explica Kaysha Thomas, instrutora e nutricionista nos Estados Unidos. “Desta vez, ele está viralizando, com as pessoas focadas na ideia do ‘corpo de Pilates’. Normalmente, a referência é uma mulher jovem, naturalmente magra e tonificada, mas essa não é a essência da prática.”
Criado pelo preparador físico alemão Joseph Pilates no início do século 20, o método surgiu com o objetivo de reabilitar soldados feridos e aprimorar o movimento funcional. Com o tempo, tornou-se um regime de condicionamento físico popular, mantendo como princípios fundamentais o controle e a precisão dos movimentos, voltados para o bem-estar geral, e não apenas para a estética.
Benefícios reais do Pilates
O Pilates se destaca por desafiar o corpo de maneira única, melhorando a consciência postural e a estabilidade muscular. “Você passa a perceber como mantém seu corpo no espaço, corrige desequilíbrios e aprimora sua forma”, explica Thomas.
A maioria dos movimentos do dia a dia envolve flexão da coluna, como ao se inclinar para amarrar os sapatos. No entanto, raramente realizamos movimentos laterais ou extensões controladas, como olhar para cima, algo explorado no Pilates. Essa abordagem pode parecer simples, mas exige coordenação e controle.
“O Pilates trabalha grupos musculares inteiros, utilizando amplitude de movimento total, o que melhora a mobilidade e a força dinâmica”, afirma Femi Betiku, fisioterapeuta e instrutor certificado de Pilates.
Embora as pesquisas sobre o método ainda estejam em desenvolvimento, estudos já indicam benefícios concretos:
- Uma revisão científica de 2011 apontou melhora na flexibilidade, mobilidade e equilíbrio dos praticantes.
- Um estudo revelou que cinco semanas de Pilates foram suficientes para aumentar a força muscular em jovens jogadores de futebol.
- Outro estudo, realizado em 2015, identificou que a prática fortaleceu a parte superior e inferior do corpo, além do abdômen, em 25 mulheres na pós-menopausa.
- Uma pesquisa de 2022, da National Library of Medicine, constatou que um programa de 12 semanas de Pilates melhorou força abdominal, flexibilidade, equilíbrio e agilidade em mulheres de meia-idade.
Além da resistência muscular, o Pilates protege e fortalece as articulações. “Os exercícios de alta repetição e baixa resistência ajudam a fortalecer ligamentos e tendões, essenciais para a estabilidade articular”, explica Paul Longworth, treinador esportivo do Reino Unido.
O Pilates transforma seu corpo?
Apesar de seus benefícios, o Pilates não deve ser a única forma de exercício na rotina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 150 minutos semanais de atividade física moderada, algo que o Pilates, isoladamente, não proporciona.
Embora seja mais desafiador que o treinamento com pesos em termos de resistência muscular, ele não substitui exercícios aeróbicos, como corrida, ciclismo ou natação, nem o treinamento de força com sobrecarga progressiva.
“O Pilates pode gerar algum desenvolvimento muscular inicial, mas esse efeito se estabiliza rapidamente”, explica Brad Schoenfeld, professor de ciência do exercício no CUNY Lehman College. Isso ocorre porque os exercícios do método geralmente não incluem sobrecarga progressiva, fundamental para o crescimento muscular contínuo.
Mesmo quando praticado com equipamentos de resistência, como o Reformer, o Pilates não é suficiente para construir massa muscular significativa. “Manter a musculatura é essencial à medida que envelhecemos”, alerta Thomas. “O Pilates pode ajudar, mas não substitui o treinamento de força.”
Outro equívoco comum é a ideia de que o Pilates cria músculos ‘longos e magros’. Na realidade, músculos são inerentemente magros – o que define sua aparência é a quantidade de gordura corporal e o volume muscular. “Não existe músculo ‘alongado’ ou ‘volumoso’”, explica Longworth. “O formato muscular é determinado geneticamente e não pode ser alterado pelo exercício.”
Da mesma forma, o Pilates não é capaz de alterar drasticamente a composição corporal. Ele pode contribuir para ativação muscular e definição, mas a redução de gordura corporal depende de treino de força, exercícios aeróbicos e alimentação equilibrada.
Pilates como parte de uma rotina completa
O Pilates é um excelente complemento para a saúde geral, mas não deve ser a única prática na rotina. “Se alguém que já treina com pesos há anos substituísse tudo pelo Pilates, provavelmente perderia massa muscular”, afirma Longworth.
Ainda assim, o mais importante é a consistência. “O melhor exercício é aquele que você gosta e consegue manter a longo prazo”, conclui Longworth. Se o Pilates for sua escolha, ele pode ser uma ferramenta poderosa para fortalecer e equilibrar seu corpo – desde que faça parte de uma abordagem completa de condicionamento físico