Por que é tão difícil combater o mosquito da dengue no Brasil?

O Brasil enfrenta um desafio histórico no controle do Aedes aegypti, o mosquito responsável por transmitir dengue, zika e chikungunya. A combinação de fatores climáticos, culturais e estruturais favorece a proliferação desse inseto em todas as regiões do país. Apesar de décadas de campanhas, o problema persiste devido à tropicalidade do clima, às condições de saneamento básico insuficientes em muitas áreas e à dificuldade em manter a população engajada em ações preventivas a longo prazo.

O Aedes aegypti se adapta facilmente a ambientes urbanos, aproveitando depósitos de água parada em locais como pneus, caixas d’água, vasos e recipientes descartados de forma inadequada. Em regiões com maior densidade populacional, como o Sudeste, a coleta irregular de lixo e a urbanização desordenada agravam o cenário. Já em áreas rurais e no Norte e Nordeste, desafios como infraestrutura precária e acesso limitado às comunidades dificultam o alcance das campanhas.

Soluções e avanços científicos

Nos últimos anos, o Brasil tem implementado abordagens inovadoras para enfrentar o problema. Tecnologias como o uso de mosquitos geneticamente modificados, infectados com a bactéria Wolbachia, têm mostrado resultados animadores ao reduzir a capacidade do mosquito de transmitir doenças. Além disso, o uso de drones para monitorar áreas de difícil acesso e aplicativos comunitários para reportar focos de mosquito têm aumentado a eficácia das estratégias preventivas.

As universidades desempenham um papel essencial nesse combate. Pesquisadores da USP, UFMG e UFPE, entre outras instituições, têm liderado estudos sobre o controle biológico, desenvolvimento de repelentes naturais e mapeamento genético do mosquito. No Nordeste, a Universidade Tiradentes (Unit) integra ciência e educação comunitária, criando modelos replicáveis que combinam avanços tecnológicos e engajamento social.

O papel da conscientização e políticas públicas

Casos recentes, como a primeira morte por dengue em Sorocaba em 2025, reforçam a necessidade de intensificar ações preventivas. Para que as soluções tecnológicas sejam efetivas, é indispensável a participação ativa da população e o fortalecimento das políticas públicas. Educação comunitária, campanhas permanentes e iniciativas que promovam o descarte correto de lixo são pilares fundamentais.

“Mais do que iniciativas isoladas, é preciso um esforço coordenado que envolva ciência, educação e políticas públicas integradas”, afirma Matheus Todt Aragão, especialista em infectologia. O caminho à frente também exige investimentos contínuos em infraestrutura e saneamento, além da expansão de redes de vigilância epidemiológica.

O desafio do Aedes aegypti no Brasil é complexo, mas as oportunidades de mudança são significativas. A integração entre ciência, tecnologia e engajamento comunitário pode transformar a forma como o país enfrenta esse inimigo histórico, promovendo soluções sustentáveis e reduzindo o impacto dessas doenças.

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